A Terra aqueceu ?

A temperatura média da superfície terrestre teve um aumento de 0.3º a 0.6º desde o fim do século XIX e nos últimos 40 anos aumentou em cerca de 0.2º a 0.3º (ver Fig. 1). O aquecimento deu-se principalmente durante dois períodos, entre 1910 e 1940 e desde os anos 70. Este aquecimento é evidente tanto na temperatura da superfície do mar como na temperatura das massas de ar continentais. Indicadores indirectos tais como a temperatura em furos de sondagem e a diminuição dos glaciares, dão-nos também evidências do aquecimento observado.

Fig.1 - Temperaturas das superfícies terrestre e oceânica combinadas (em ºC) desde 1856 até 2005. A linha a grosso representa uma média suavizada dos valores anuais indicados pelas barras, de forma a filtrar variações inferiores a 10 anos. (fonte: Climatic Research Unit, UK; ver também IPCC Report - 2001).

Há uma série de evidências baseadas em "proxies" (marcadores indiretos) que sugerem que as temperaturas de Verão no hemisfério norte durante as últimas décadas são as mais elevadas desde 1400 D.C. (Climate Change 1995, 2º Relatório do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas, IPCC). Um proxy é um fenómeno ou conjunto de dados complexo de onde se pode extrair de maneira indireta informação sobre outros fenómenos (embora isso nem sempre seja fácil). Como exemplo podemos pensar nos anéis dos troncos das árvores. Cada anel corresponde a um ciclo de estações, ou seja um ano, e através da sua espessura podemos perceber se nesse ano choveu muito ou não. Se choveu muito, então a árvore cresceu mais e o anel torna-se mais largo. O oposto acontece nos anos de seca. Podemos assim considerar que a espessura dos anéis são proxies de pluviosidade anual!

No que respeita à evolução da temperatura terrestre antes de 1400, não se pode tirar nenhuma elação precisa pois as medições são escassas e muitas vezes de fiabilidade duvidosa. Dados retirados de amostras de gelo (ice cores) de diversas partes do planeta sugerem que a temperatura média global se tem mantido constante desde 1400 embora no século XX, em alguns lugares, essa temperatura mostrou estar acima da média. O degelo dos glaciares e o aquecimento e dilatação dos oceânos levam a um aumento do nível médio das águas do mar. Baseando-nos na análise dos níveis das marés, podemos hoje dizer que durante os últimos 100 anos o nível médio dos oceânos aumentou entre 10 a 25 cm (Fig. 2). É muito provável que este aumento esteja directamente relacionado com o aumento da temperatura global ao longo destes 100 anos. A taxa de subida do nível dos oceânos sugere uma contribuição conjunta das calotes do Antárctico e da Gronelândia, mas a observação individual das calotes de gelo ainda não permite determinar qual a contribuição individual de cada uma das regiões. Preve-se que o nível médio dos oceânos suba cerca de 40 a 65 cm até ao fim deste século.

Fig.2 - Medições do nível do mar em Fort Point em S.Francisco deste 1900 (fonte: U.S. Geological Survey; ver também Relatório IPCC-2001

O clima terrestre pode variar devido a diversos factores. Em particular, a actividade humana pode levar a um aumento radiativo através da modificação e alteração das quantidades atmosféricas de gases com efeito estufa e aerosóis. A quantidade de dióxido de carbono, CO2, na atmosfera aumentou mais de 25% desde a revolução industrial no século passado (ver fig. 3). Não há dúvida que este aumento é devido a actividade humana, mais especificamente devido à utilização de combustíveis fósseis. Antes desta época, as concentrações de CO2 flutuaram em torno do seu valor médio durante os últimos 1000 anos, período esse onde o clima global foi relativamente estável. As concentrações de outros gases com efeito estufa também aumentaram.

Fig.3 - Concentração atmosférica de CO2 desde o ano 1000 até ao ano 2000 baseada na análise de amostras de gelo e, nas as últimas décadas, em medições atmosféricas directas. Estão também representadas as projecções até 2100 baseadas em diversos modelos de previsão (consulte o Relatório do IPCC 2001 para mais detalhes.)

Por outro lado, há que ter em conta que o Sol é, de longe, a maior fonte de energia/calor para a Terra. Isto leva-nos a deduzir que quaisquer variações no fluxo de energia que provém do Sol deverá afectar o equilíbrio energético entre a superfície terrestre e atmosfera, afectando de algum modo os padrões climáticos terrestres. Até que ponto é que essas variações (que se medem na escala dos milhares de anos) poderão afectar o clima terrestre, é uma questão que continua em aberto. Este e outros temas relacionadas com as relações Sol-Terra são questões importantes cujas respostas nos permitiriam deduzir qual o peso que a variação solar tem no nosso clima quando comparadas com as variações climáticas induzidas pelo Homem.


Para saber mais pode consultar:

 

NOAA Climate Prediction Center
World Data Centre for Greenhouse Gases
US Global Change Research Information Office

IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change
European Environment Agency
IEA Greenhouse Gas R&D Programme (IEAGHG)


Texto adaptado da página "The Sun and the Earth Climate", por Natalie Krivova do Max Planck Institute for Solar System Research, Alemanha