Transformações Conformes 

escoamento de fluidos: aplicações.

Henrique Candeias Nº48158
Paula Vieira Nº48176
Pedro Oliveira Nº48179

Resumo:

No presente trabalho pretende-se demonstrar a aplicação de transformações conformes à resolução de problemas de escoamento de fluidos. A ideia base destas aplicações é utilizar uma transformação conforme para "mapear" uma zona do plano ( isomorfo a [Graphics:Images/PHP_gr_1.gif] ), mais ou menos complicada, para uma região onde seja fácil resolver o problema ; realizando a transformação inversa obtemos a solução desejada.
Resolvemos dois problemas para fluidos incompressíveis e não viscosos: um a fluir no semiplano positivo em torno dum semidisco unitário centrado na origem e, um outro, a fluir em torno de um "aerofoil".

Fundamentos:

Antes de mais convém dizer que não pretendemos aqui demonstrar qualquer teorema, apresentando apenas os resultados que nos possam ser úteis.

Transformações Conformes:

Por definição, [Graphics:Images/PHP_gr_2.gif] é conforme se [Graphics:Images/PHP_gr_3.gif] for analítica em [Graphics:Images/PHP_gr_4.gif] e se [Graphics:Images/PHP_gr_5.gif]. Geometricamente aquilo que caracteriza uma transformação conforme é o facto de esta preservar os ângulos entre duas curvas e, localmente, rescalar vectores.

Enumeramos de seguida algumas das propriedades das transformações conformes:

Se [Graphics:Images/PHP_gr_6.gif] é conforme e bijectiva, então [Graphics:Images/PHP_gr_7.gif] também é conforme.

Se [Graphics:Images/PHP_gr_8.gif][Graphics:Images/PHP_gr_9.gif] são conformes e bijectivas, então [Graphics:Images/PHP_gr_10.gif] é igualmente conforme e bijectiva.

Se [Graphics:Images/PHP_gr_11.gif] é uma função harmónica numa região [Graphics:Images/PHP_gr_12.gif]  e se [Graphics:Images/PHP_gr_13.gif] é analítica então a função [Graphics:Images/PHP_gr_14.gif] é harmónica em[Graphics:Images/PHP_gr_15.gif].

Estas propriedades são importantes para que seja possível usar transformações conformes nas aplicações.

O teorema de mapping de Riemann afirma o seguinte:

Se [Graphics:Images/PHP_gr_16.gif] é uma região simplesmente conexa tal que [Graphics:Images/PHP_gr_17.gif] então existe uma transformação conforme bijectiva [Graphics:Images/PHP_gr_18.gif] , onde [Graphics:Images/PHP_gr_19.gif]. Para além disso, para cada [Graphics:Images/PHP_gr_20.gif], é possível encontrar um [Graphics:Images/PHP_gr_21.gif] tal que [Graphics:Images/PHP_gr_22.gif][Graphics:Images/PHP_gr_23.gif]. Este [Graphics:Images/PHP_gr_24.gif]é único.

Este resultado permite-nos saber que é sempre possível encontrar uma transformação conforme entre quaisquer duas regiões simplesmente conexas diferentes de [Graphics:Images/PHP_gr_25.gif].

Um outro resultado a ter em conta é que para calcularmos a transformada de uma dada região simplesmente conexa, basta verificar a sua fronteira e a transformada de um ponto do seu interior. A imagem dessa região será a zona do plano (dividido em dois pela imagem da fronteira) onde a imagem do ponto se encontra.

Mecânica de Fluidos

Se limitarmos o nosso estudo a fluidos incompressíveis e não viscosos, podemos considerar uma função em [Graphics:Images/PHP_gr_26.gif] de potencial de velocidade [Graphics:Images/PHP_gr_27.gif] cujo gradiente dá o campo de velocidades [Graphics:Images/PHP_gr_28.gif]. Esta função [Graphics:Images/PHP_gr_29.gif] tem que satisfazer a equação de Laplace, isto é, tem que ser uma equação harmónica. Logo podemos definir uma função analítica [Graphics:Images/PHP_gr_30.gif] em que [Graphics:Images/PHP_gr_31.gif] é a harmónica conjugada de [Graphics:Images/PHP_gr_32.gif]. Chamamos à função [Graphics:Images/PHP_gr_33.gif] potencial complexo. Podemos também definir uma função de velocidade complexa [Graphics:Images/PHP_gr_34.gif]. Para obtermos as componentes da velocidade em [Graphics:Images/PHP_gr_35.gif] basta extrair a parte real e a parte imaginária da sua conjugada.

Em cada ponto a velocidade é tangente às linhas de [Graphics:Images/PHP_gr_36.gif] e normal às linhas de [Graphics:Images/PHP_gr_37.gif].

É possível calcular o potencial nos pontos de uma região aplicando a transformação às coordenadas para uma região onde se conheça a solução e então calcular aí o potencial. Podemos assim calcular o potencial na região [Graphics:Images/PHP_gr_38.gif] usando a transformação de [Graphics:Images/PHP_gr_39.gif] onde o potencial é dado por [Graphics:Images/PHP_gr_40.gif] fazendo [Graphics:Images/PHP_gr_41.gif].

Exemplos:

[Graphics:Images/PHP_gr_42.gif]

Exemplo 1 :

Neste exemplo pretende-se estudar o comportamento de um fluido, no plano superior, em torno de um semidisco unitário e centrado na origem. Para tal vamos usar uma transformação da região em estudo [Graphics:Images/PHP_gr_43.gif] para o plano superior ([Graphics:Images/PHP_gr_44.gif]).

A transformação desejada é:

[Graphics:Images/PHP_gr_45.gif]
Podemos verificar que esta realiza a transformação entre as regiões desejadas calculando a transformada na fronteira e verificando um ponto do interior.
[Graphics:Images/PHP_gr_46.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_47.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_48.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_49.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_50.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_51.gif]
Verifica-se.

Se escolhermos para função de potencial:
(Verifica-se que esta função respeita as condições necessárias.)

[Graphics:Images/PHP_gr_52.gif]
Logo a função que dará o potencial na região H é:
[Graphics:Images/PHP_gr_53.gif]
Conforme foi explicado na introdução  o campo de velocidades é dado por
[Graphics:Images/PHP_gr_54.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_55.gif]
Uma possível representação do comportamento do fluido será
[Graphics:Images/PHP_gr_56.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_57.gif]

Exemplo 2 :

Neste exemplo pretende-se estudar o comportamento de um fluido, em torno de um aerofoil. Para tal vamos usar uma transformação [Graphics:Images/PHP_gr_58.gif] (e sua inversa [Graphics:Images/PHP_gr_59.gif] da região em estudo ([Graphics:Images/PHP_gr_60.gif]) para o exterior do círculo de raio r e centro em z0 ([Graphics:Images/PHP_gr_61.gif]).

A transformação inversa desejada é:
(Esta é a transformaç~ao de Joukowski)

[Graphics:Images/PHP_gr_62.gif]
Os pontos onde esta transformação não é conforme são
[Graphics:Images/PHP_gr_63.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_64.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_65.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_66.gif]
No nosso exemplo o primeiro ponto não nos vai interessar pois este encontra-se no interior da circunferência. O segundo corresponde a um ponto onde esta intersecta a origem. Aqui como a segunda derivada já é diferente de zero os ângulos irão ser multiplicados por dois criando-se assim a extremidade angulosa do aerofoil.

Podemos verificar que esta realiza a transformação entre as regiões desejadas calculando a transformada na fronteira e verificando um ponto do interior.

[Graphics:Images/PHP_gr_67.gif]
Aerofoil
[Graphics:Images/PHP_gr_68.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_69.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_70.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_71.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_72.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_73.gif]
Verifica-se que esta transformação é adequada.

Procuremos a transformação da região em estudo para o exterior do círculo.

[Graphics:Images/PHP_gr_74.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_75.gif]
Como obtemos duas soluções resta descobrir qual importa estudar. Para tal avaliamos ambas e, escolhemos a que fica fora da região.
[Graphics:Images/PHP_gr_76.gif]
A função de potencial em torno de um círculo de raio r com o centro na origem e em que a velocidade do fluido é segundo a horizontal é
[Graphics:Images/PHP_gr_77.gif]
Se usarmos a mudança de coordendas seguinte temos potêncial em torno de um círculo com centro em z0 e em que a velocidade do fluido tem o ângulo [Graphics:Images/PHP_gr_78.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_79.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_80.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_81.gif]
Logo a função que dará o potencial na região H é:
[Graphics:Images/PHP_gr_82.gif]
Para evitar que a velocidade seja infinita na singularidade [Graphics:Images/PHP_gr_83.gif] é preciso impor que ai a circulação seja zero obtendo-se para a circulação:
[Graphics:Images/PHP_gr_84.gif]
Em que o [Graphics:Images/PHP_gr_85.gif] corresponde ao parâmetro da circunferência correspondente ao ponto em causa, ou seja
[Graphics:Images/PHP_gr_86.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_87.gif]
Criamos assim as novas funções com o [Graphics:Images/PHP_gr_88.gif] já substituido
[Graphics:Images/PHP_gr_89.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_90.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_91.gif]
Uma possível representação do comportamento do fluido, em que se mostram linhas equipotências da parte real e imaginária do potêncial é:
[Graphics:Images/PHP_gr_92.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_93.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_94.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_95.gif]
Como podemos observar existem alguns problemas segundo uma linha. Tal deve-se provavelmente ao logaritmo. Uma forma alternativa de gerar esta representação é fazer o cálculo do potencial em cada ponto em torno do círculo e fazer apenas a transformação das coordenadas desse ponto. Assim evitamos o uso do inverso desta transformação.
[Graphics:Images/PHP_gr_96.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_97.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_98.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_116.gif]
Um caso particular -- Barra
Se a circunferência se encontrar centrada na origem e tiver raio igual ao parâmetro da transformação então a transformação dá-se para uma barra.
[Graphics:Images/PHP_gr_117.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_118.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_119.gif]

Uma possível representação do comportamento do fluido, em que se mostram linhas equipotências da parte real e imaginária do potêncial é:

[Graphics:Images/PHP_gr_120.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_121.gif]
[Graphics:Images/PHP_gr_122.gif]

Conclusão

Conforme se pode verificar este é um bom método para calcular o comportamento de fluidos em torno de geometrias complicadas. No entanto é preciso ter em conta que para alguns casos estte trantamento não é realista, não podendo o comportamento do fluido ser descrito por um potêncial.

Bibliografia

Basic Complex Analysis -- 2nd Edition, J. E. Marsden & M. J. Hoffman, W. H. Freeman and Company, 1987

Fluid Mechanics, Joseph H. Spurk, Springer, 1997

Elementary Fluid Dynamics, D. J. Acheson, Claredon Press, 1990


Converted by Mathematica      July 19, 2001